Geral
E ainda tem sino e apito
Lendo o livro “Rápido e devagar: duas formas de pensar”, de autoria de um psicólogo que ganhou o prêmio Nobel de economia na década de 70 do século passado, descobri que existe um tal de “índice de felicidade”, criado através da combinação, séria, de estudos comportamentais, sociológicos, psicológicos, antropológicos, etc… e um bocado de matemática, estatística em especial.
Logo depois, por ocasião de ler o livro de outro alguém que, ao contrário desse escrevinhador, tinha o dom da escrita, deparei com um texto cujo tema central era a felicidade e seus desdobramentos: onde a encontramos, como ela se constrói, etc…, e então a coincidência do tema (felicidade) me fez mergulhar nas memórias da minha infância à procura de lembrança felizes. E tristes.
As lembranças felizes surgiram de imediato e aos borbotões: o jogo de bola e de bétis na rua (de terra) Curitiba, quadra 6; andar de patins e skate na calçada da rua Vitória (de terra também), quadra 5; brincar de esconde-esconde nos dois quarteirões no entorno dessas mesmas ruas (todas de terra), valendo esconder nas muitas árvores que brotavam em todas as calçadas; passar o ano novo na casa dos avós paternos onde, apesar dos poucos primos, tinha uva no quintal e três canais de TV (Epitácio tinha só um); soltar barquinhos de papel nos dias de chuva; sentar na borda da calçada daquela mesma rua Vitória (rota dos caminhões que levavam toras ao cais e depois subiam descarregados) só para sentir a enxurrada violenta bater na gente, que tinha corpo miúdo e cabeça de vento; pular, bagunçar e dormir na casa dos meus avós maternos junto com quase um dúzia de primos, em todas as páscoas e natais; descer ‘a pé’ até o Paranazão, principalmente no período das cheias, para pescar embaixo do restaurante do seu Damasceno, ou na varanda dele, conforme o rio estivesse mais ou menos cheio, dentre muitas outras lembranças felizes que certamente não caberiam nesse generoso espaço que, para desespero e incompreensão dos leitores, me cedem.
Já as lembranças tristes tive que garimpar mais fundo e, com muito esforço, encontrei uma que considero triste porque a vejo com os olhos do adulto de hoje, embora na criança de então acredito que a tristeza não tenha deitado raízes (falo da morte da minha avó paterna que ocorreu quando meus pais, meu irmão e eu (com cerca de 8 anos) havíamos saído em viagem de férias e na estrada fomos avisados pela polícia rodoviária do acontecido).
Pode parecer estranho, mas nem mesmo por ocasião dos acidentes de criança, vários por sinal, em que quebrei pé, perna e braço (dedo, pescoço e costela nunca) guardo lembranças tristes.
Isso tudo quer dizer que não fui feliz em outras fases da vida? Só me resta a nostalgia? Não, mas rememorando momentos felizes da juventude e da vida adulta percebi que em todos eles, inclusive agora aos 56, o espírito da infância estava presente.
Lição de vida? Nenhuma. Apenas decidi fazer com mais frequência coisas que me fazem sentir criança.
Alemão Tedesco (56) é advogado e pai do Luigi.
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PS Troquei o título da crônica depois de já haver concluído o texto porque não quis deixar de fora (dos momentos felizes da infância) o badalar dos sinos da igreja São Pedro e o apito dos trens que, vez por outra, interditavam a descida para o cais
José Carlos Botelho Tedesco (Alemão Tedesco) é advogado e mora no Oeste Paulista /
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